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TROPEIRO: SERENIDADE E HUMOR
Edmílson Martins
Fevereiro/2020
Num tempo passado, no sertão, o transporte de cargas
era realizado por tropas de burros, conduzidas por homens experientes, serenos
e corajosos, chamados tropeiros.
Eles transportavam para as cidades a produção de
arroz, milho, feijão, algodão, rapadura, etc. E da cidade para o campo, as
mercadorias necessárias para o trabalho e consumo da população campesina.
Os tropeiros eram desbravadores de estradas do sertão.
Conheciam com detalhes os caminhos por onde passavam. Conduziam as tropas com
muita habilidade e paciência.
Eles eram profundos conhecedores das características
do burro, animal resistente, dócil, cauteloso e, às vezes, muito teimoso. Os
tropeiros adestravam os burros com tanta habilidade, que os animais
desempenhavam o trabalho com muita desenvoltura.
Em torno dos tropeiros, havia muitas histórias
engraçadas, contadas com muita graça, por hábeis contadores de histórias, muito
comuns no sertão. Eles teatralizavam as histórias com tanta arte que ficavam na
mente e no coração dos ouvintes, como realidade.
Uma dessas histórias conta que, certo dia, um tropeiro
conduzia sua tropa pela estrada, devagar, paciente, com toda a serenidade que
lhe era característica.
De repente, surgiu atrás dele um carro, com o
motorista buzinando, com insistência, pedindo passagem. Como a estrada era
estreita e não havia acostamento, o tropeiro foi retirando devagar sua tropa.
Então o motorista gritou:
- Aí, tropeiro, retira logo teus burros do caminho que
eu preciso passar com meus cinquenta e cinco cavalos.
O motor do carro tinha a potência de cinquenta e cinco
cavalos.
O tropeiro, com toda tranquilidade, foi retirando seus
burros para a beira da estrada, dando passagem ao carro, sem nada falar.
O carro passou, com olhar debochado do motorista. E o
tropeiro continuou sua jornada, tangendo sua tropa, conduzindo seus animais, mantendo
sempre a serenidade.
Depois de algum tempo de caminhada, o tropeiro avistou
o carro que, desgovernado, caíra dentro de um açude. Foi se aproximando e,
vendo o motorista, foi à forra, gritando com muito humor:
- Hei, amigo, tá dando de beber à manada?
E seguiu sua viagem, conversando com os burros, sempre
bem humorado, cauteloso e sereno.
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