sexta-feira, 15 de novembro de 2019

MAURÍCIO, O REBENTO



















MAURÍCIO, O REBENTO

                  Edmilson e Maria José (pais)
                   15/11/2019


Dia quinze de novembro
Nasceu o primeiro rebento.
Na hora de rebentar
Lá no Engenho de Dentro
Corremos para a Lagoa
Bem velozes como o vento.

E lá pelas treze horas
O Maurício rebentou
Quase nascendo no táxi
Preferiu a mão do doutor
Segurou para nascer
A mão de nosso Senhor.

Hoje, Maurício é pássaro
Que canta, toca e arrebenta
Que mora lá montanha
E bons ideais sustenta
Com as fadas e duendes
Muitos sonhos acalenta.

Parabéns, filho Maurício
Nosso primeiro rebento
Continue arrebentando
Desenvolvendo os talentos
Que na vida seja sempre
Um criador de eventos.

sábado, 9 de novembro de 2019

CORDEL - RAVI ANIVERSÁRIO




















ANIVERSÁRIO DO RAVI

                Vovô Edmílson
                 Vovó Zezé

                 Rio, 09/11/2019


Hoje Ravi faz um ano
Ravi Sol que nos aquece
É um menino sapeca
Que muitos mimos merece
Esquenta vida da gente
E dele ninguém se esquece.

Ravi é neto querido
Que só faz o que convém
E tudo que ele apronta
Não incomoda ninguém
Quando diz venham comigo
Todos bem rápido vêm.

Parabéns Ravi menino
Sol que ilumina e aquece
Que os anjinhos do Céu
Façam a Deus uma prece
Pedindo para você
Tudo que você merece.


segunda-feira, 4 de novembro de 2019

MANDA DEUS CHUVA PRA EU COMER ARROZ




“MANDA DEUS CHUVA PRA EU COMER ARROZ”
                                         Edmílson Martins
                                          Outubro de 2019

Corria a década de 1940. Eu tinha, mais ou menos, oito anos. Longas secas no Nordeste. Foi naquele momento, 1947, que surgiu o lamento e apelo de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, com a música “ASA BRANCA”: Quando oiei a terra ardendo/Qual fogueira de São João/Eu perguntei a Deus do céu, ai/Por que tamanha judiação/Eu perguntei a Deus do céu, ai/Por que tamanha judiação”.
Pois bem, naquele momento, eu e outras crianças, andando pelas capoeiras, ou a trabalho, ou caçando passarinhos, diferente do lamento da música e da fuga da Asa Branca, pedíamos, insistentemente, a Deus que mandasse chuva. Então, entoávamos, repetidamente, a expressão “manda Deus chuva pra eu comer arroz; manda Deus chuva pra eu comer arroz”.
Nosso apelo fazia sentido. É que quase não comíamos arroz. Meu pai plantava milho, feijão, mandioca, cana de açúcar e arroz. Quando chovia, cultivavam-se milho, feijão, mandioca e pouco arroz. Porque, para o arroz, havia poucos lugares apropriados para o plantio. Mesmo assim, como o arroz era mais valorizado, o pouco que se colhia era vendido para pagar os empréstimos que meu pai adquiria no Banco do Brasil. O dinheiro era empregado no plantio e o banco não considerava a falta de chuva. O empréstimo tinha que ser pago no vencimento.
Somente sobrava para nós feijão, milho e mandioca (transformada em farinha). Mas parte desses produtos também era vendida, principalmente a melhor parte. Sobrava a segunda qualidade. “O feijão, chamado feijão de corda” era cozido, mas ficava duro. Comíamos assim mesmo, com farinha. Como era cozido com muita água, comíamos muito o caldo com a farinha.
Às vezes, com muita raridade, comíamos arroz, geralmente na Semana Santa. Arroz com queijo. Momentos ansiosamente esperados. O mais, era angu com rapadura, ou com leite, quando tinha. A rapadura era de segunda qualidade; a de primeira era vendida para pagar ao banco.
Por tudo isso, saía a criançada, gritando, fazendo apelo a Deus, a nós apresentado como o Pai misericordioso, que tudo pode. “Manda Deus chuva pra eu comer arroz”.
E eu, sendo a criança de mais idade, recomendava: “vamos gritar mais alto, bem alto, pra Deus nos ouvir”. Deus, pela convicção que tínhamos e pela teimosia da nossa esperança, certamente nos ouvia e até nos atendia. Mas vinha o banqueiro, que tinha (e tem) como deus o dinheiro, e levava quase tudo o que nosso Deus nos dava.
Hoje, longe daqueles tempos, já adultos, mas ainda vivendo em triste situação social, sem as condições necessárias para viver em paz, mas combatendo o bom combate e guardando a fé, repetimos o apelo simbólico daquelas crianças ao Deus da esperança. “Manda Deus chuva pra eu comer arroz”.

AS CERCAS



                               








  AS CERCAS
                          
                                  Edmílson Martins
                                        Setembro 2019
           
Quando vejo as notícias sobre as ocupações na Amazônia, os desmatamentos e expulsões dos indígenas das suas terras, tudo gerado pelo olho grande, a ganância e interesses financeiros, lembro-me de fatos ocorridos, quando eu ainda era criança.

            Meu pai e minha mãe nasceram e se criaram na roça. Ele, Antônio Martins de Oliveira, conhecido como Antônio “Bembém” e ela, Joana Maria da Conceição, conhecida como dona “Nem”. Cumpriram sua missão neste planeta. Hoje, estão na Glória do Pai.

            Gostavam da vida do campo. Meu pai valorizava muito o trabalho agrícola. Realizava-se com as plantações. Muitas vezes, o vi chorando, calado, com lágrimas nos olhos, quando a chuva não vinha e o milharal secava antes de dá espigas.

            Mas era teimoso na esperança. Nunca desanimava. Sempre dizia: “Deus dá um jeito. Ele vai mandar chuva”. Não percebia, na sua boa fé, que era vítima de uma estrutura social injusta e cruel. Recorria a empréstimos no Banco do Brasil e só conseguia migalhas. Não sabia, embora sentisse, que o Banco estava inserido numa estrutura política e econômica, preparada para favorecer aos que já tinham muitas posses.

            Ele era um homem com profundo sentimento de justiça. Quando tinha sua dignidade e direitos imediatos ameaçados, reagia com indignação e coragem, disposto a ir às últimas consequências. Era muito rigoroso no trabalho, no cumprimento de seus compromissos e no respeito aos outros. Muito generoso e capaz de sacrifícios para ajudar a quem tinha necessidades.

            Minha mãe muito o ajudava, com sua paciência e serenidade. Era o equilíbrio. Não era uma “Amélia”, que achava bonito não ter o que comer, mas nunca a vi reclamar por passar dificuldades. Era uma mulher forte, decidida, que tinha fé em Deus e na vida. Além de cuidar dos 17 filhos, ainda encontrava tempo para exercer o ofício de costureira. Quando meu pai ficava exaltado, lá vinha ela e dizia: “Calma, Home”!

            Era profundamente religiosa e o seu sonho era morar perto de uma igreja, para ir à missa todos os dias. Ia sempre, em romaria, ao santuário de São Francisco, em Canindé- CE. Todos os dias, após o jantar, reunia a criançada e ensinava as orações: Pai nosso, Ave - Maria, Credo, Salve Rainha, etc. E conosco rezava o terço. E também contava estórias. Era mãe e mestra, como devem ser todas as mães. Ainda me lembro da estória do “Pássaro Azul”. Era um príncipe que fora transformado em pássaro pela feiticeira e que se afeiçoara a uma donzela.

Pois bem, meu pai tinha adquirido uma pequena propriedade, que se situava no meio de um grande latifúndio. Lá se plantava milho, feijão, arroz, algodão e cana para a fabricação de rapadura. As dificuldades eram grandes, por causa das secas e falta de recursos. Mesmo assim, ele acreditava na agricultura e cultivava aquele sítio com muito carinho e zelo.

            O proprietário do grande latifúndio implicava muito com meu pai, por ele está situado bem no meio de suas terras. Como fazia com outros pequenos proprietários, tentou tomar posse da nossa pequena propriedade. Mandou fazer cercas, apossando-se de uma parte. Meu pai reagiu, reclamou, protestou, mas não conseguiu evitar a posse. Depois, o latifundiário invadiu novamente e passou mais cercas, tentando tomar outro pedaço da terra.

            Esse atrevimento aprofundou a indignação do meu pai. E, com o apoio de minha mãe, também indignada, imediatamente mandou um recado: “Senhor fulano, amanhã, bem cedo, vou derrubar aquelas cercas e quem tentar impedir vai ser derrubado também”. E no dia sequinte, foi lá, com meus irmãos mais velhos e alguns amigos, com foices e machados. Derrubaram as cercas e ninguém apareceu para impedir. E dizia, com muita decisão: “Ninguém vai me tirar o que consegui com tanto sacrifício e que pertence aos meus filhos”.

            Era assim o meu pai: impetuoso, corajoso, valente, duro e intransigente na defesa dos seus direitos, da justiça e da dignidade. Com essa decisão e ação impetuosa e corajosa, o dono do latifúndio parou de implicar. Quando viu que meu pai não recuaria, não teve coragem de assumir as consequências.

 É assim que deviam se comportar todos os brasileiros, diante do crescente processo de devastação da Amazônia e de toda a nação brasileira. A fé, a coragem, a valentia, a defesa da dignidade têm que ser mais forte do que qualquer poder devastador. Quando Jesus disse : “Vigiai e orai”, quis dizer: fiquem atentos às devastações e lutem com todas as suas forças para evitá-las.