quarta-feira, 9 de outubro de 2019

CULTIVANDO A DIGNIDADE

















CULTIVANDO A DIGNIDADE

                 Edmílson Martins

                 Setembro/2019

Década de 1950. Longo período de seca na Ceará e em todo o nordeste. O povo nordestino, historicamente, vítima da seca e dos desmandos dos diversos governos, sempre a serviço do sistema capitalista, enfrentava aquela longa estiagem, com coragem e dignidade.

Embora aceitasse, por necessidade, a ajuda em forma de esmola, não se conformava e protestava, como informa a música “Vozes da seca” de Zé Dantas e Luiz Gonzaga:
“Mas doutô uma esmola/ a um homem qui é são/
Ou lhe mata de vergonha/ ou vicia o cidadão”. “Dê serviço a nosso povo/Encha os rios de barrage/Dê cumida a preço bom/Não esqueça a açudage/...

Pois bem, naquela época, talvez influenciado pela música, cantada por Luiz Gonzaga, com grande repercussão em todo o país, o governo providenciou a construção de açudes e barragens, oferecendo milhares de emprego.

E é bom que se diga que naquele momento, também, a corrupção corria solta, em torno das obras do DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra as secas), com esse nome desde 1945, mas criado com outro nome em 1919.

Mas um camponês, indo pela estrada, viu cair uma maleta de um jipe que passava com um engenheiro que coordenava obras de açudes e barragens. O homem pegou a maleta e abrindo-a viu que estava cheia de dinheiro. Fechou a maleta e foi andando, andando, durante umas duas horas, até chegar à construção, onde estava o engenheiro e lhe devolveu a mala.

O engenheiro recebeu-a com frieza, como se aquele dinheiro não fosse tão importante. Olhou para o homem, um trabalhador humilde, tirou uma moeda do bolso e lhe disse:
- tome, meu amigo, compre uma corda para se enforcar. O senhor com tanto dinheiro na mão e devolve tudo?

O homem olhou para o engenheiro, decepcionado e disse:
- Devolvo porque esse dinheiro não é meu. Deve ser para pagar aos trabalhadores. E, cultivando sua dignidade, recusou a vil oferta do engenheiro.

Essa historinha é verdadeira. Aconteceu e era espalhada por toda parte no sertão, como exemplo de honestidade. E seria bom que essa atitude do camponês, hoje, tão rara, fosse imitada por todos os brasileiros, que sofrem a tentação do envolvimento no esquema de corrupção inerente ao sistema político e econômico que nos governa.

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