quinta-feira, 31 de março de 2016

O GOLPE DE 1964, MENINOS, E MENINAS, EU VI












O GOLPE DE 1964, MENINOS E MENINAS, EU VI.
                    Edmílson Martins
                    31 de março de 2016

          No dia 1º de abril de 1964, nosso país amanheceu triste. Concretizou-se o golpe iniciado no dia 31 de março. Meninos, eu vi. O sol da liberdade em raios fúlgidos, que antes brilhava no céu da pátria, iluminando os caminhos do povo rumo à libertação, parou de brilhar, ofuscado pelas nuvens escuras do tempo tempestuoso que se formava em todo o Brasil, pela força das armas.
Nos campos, as árvores amanheceram menos verdes; os passarinhos cantavam tristes; nos rios, as águas estavam menos claras e os peixes mais raros; o mar recolheu suas ondas e ficou mais longe da areia; as sereias, que habitualmente tomavam banho de sol, sumiram. Enfim, toda a natureza protestava contra a irregularidade que se implantava naquele dia sinistro.
Nos campos, nas fábricas, nos bancos, nas casas comerciais, nas construções os trabalhadores começavam o dia com um gosto amargo. Havia um cheiro de enxofre no ar. O demônio da violência, do retrocesso e da escravidão estava solto.
          O Rio de Janeiro, que tradicionalmente amanhecia cantando, como diz a canção popular, naquele dia, amanheceu chorando e as flores dos jardins perdiam o perfume por causa do enxofre, das metralhadoras, fuzis e tanques que enchiam as ruas. Aquele outono começava com a chuva e o frio mais pesados. O frio estava mais frio, a chuva molhava mais, as nuvens mais escuras.
          O dia amanheceu verde-oliva. Tanques nas ruas. Soldados armados (“amados ou não, quase todos perdidos, com arma na mão”) por toda parte; Nas ruas, “indecisos cordões”. Poucos sabiam o que estava acontecendo.   

O povo foi chamado a resistir. E houve manifestações no centro do Rio de Janeiro. Eu vi tanques com canhões e metralhadoras apontados para o povo, na Cinelândia. Os manifestantes pensavam que o Exército estava do lado do presidente Goulart. Ledo engano. Estava contra o povo e a favor do golpe.
Do outro lado do campo de batalha, o gigante filisteu (o poder econômico) intimidava, com sua pesada armadura, ali representada pelos tanques, metralhadoras e outras armas pesadas. O iluminado Davi, naquele momento, não apareceu e toda a nação foi subjugada.
          Foram 21 anos de trevas, com perseguições, prisões, torturas e mortes, com desmantelamento das organizações sociais.
          Durante esse tempo de escuridão, o povo brasileiro passou a andar mais devagar, “falando de lado e olhando pro chão”.  Mas foram anos de resistência. Mesmo no escuro, Cambaleando, tropeçando, caindo e levantando, o povo reagiu, reconquistando a democracia.
           Derrotamos a ditadura das armas, mas continua a ditadura econômica, sustentada ainda pelo poder do grande capital nacional e internacional, que se mantém à custa do sacrifício do povo. A resistência continua...
          Como disse Thomas Jeferson, terceiro presidente dos Estados Unidos: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Por isso, precisamos estar sempre alertas para não permitirmos que outra experiência amarga, como a dos anos de chumbo, aconteça em nosso país e para derrotarmos a ditadura econômica que ainda nos oprime. Precisamos construir uma nação verdadeiramente livre e democrática.
           


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