“É PRECISO QUE ELE CRESÇA E EU DIMINUA”.
(Evang. de João 3:30)
Edmílson Martins
Fevereiro/2022
“E preciso que ele cresça e eu diminua”. Foi essa a resposta de João
Batista, quando lhe perguntaram sobre o aparecimento de Jesus. E disse que sua
missão era preparar os caminhos para a ação de Jesus. Cumpriu sua missão e se
retirou de cena.
Um dia, na década de 1960, eu estava numa reunião de uma Congregação
Mariana, para assistir a uma palestra de um padre, convidado pelo presidente da
Congregação. Diante de uma plateia atenta, na sua maioria jovens, o presidente
iniciou a reunião dando boas-vindas ao palestrante e vangloriando-se de ser presidente
da Congregação por 25 anos.
O padre, homem inteligente, profundo conhecedor das Sagradas Escrituras,
ouviu atentamente o discurso do presidente, fazendo anotações. Quando lhe foi
dada a palavra, ele agradeceu o convite e a acolhida de todos. E, antes de
iniciar a palestra, falou sobre algumas
observações anotadas. E a que mais marcou a minha memória foi essa:
“Senhor presidente, peço antecipadamente desculpas pelo que vou dizer: o
senhor é um incompetente. Ficou 25 anos à frente da Congregação! Não teve capacidade
de preparar pessoas para lhe substituir? Isso é inconcebível”. O presidente
ficou com cara de tacho.
Nos últimos 60 anos, eu tenho participado ativamente das atividades
políticas e sociais, sempre em busca de renovações e mudanças. Uma luta difícil
e espinhosa, porque o conservadorismo e as reações contrárias às mudanças são
muito fortes. Os que estão no poder sempre se acham insubstituíveis, não querem
nunca largar o osso.
Por isso, fico triste quando vejo políticos, no mesmo cargo, com cinco,
seis, ou mais mandatos consecutivos. Nunca querem contribuir para que outros os
substituam. É lastimável. Os partidos deviam ser obrigados a estabelecer como
norma: “Nenhum cidadão poderá exercer mais de um mandato no mesmo cargo.” O
mandatário teria, também, como missão ajudar outros a se elegerem.
Em 1971, companheiros sindicalistas mais experientes convidaram-me para
ser candidato à presidência do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.
Aleguei que ainda não estava preparado para a missão. Eles me disseram que não
me preocupasse. Ajudar-me-iam a desempenhar o cargo. E o fizeram.
Para as eleições de outubro deste ano de 2022, já vemos a grande
quantidade de políticos que se apresentam como candidatos à reeleição. Muitos
deles com mais de três mandatos. Não se empenham por renovação. Não promovem novos
agentes políticos. Na prática, não querem novas candidaturas. Por isso, temos,
no Brasil, uma política velha, sem novidades, sem participação da juventude.
Pessoas com mais de 70 anos não deviam ser candidatos a nenhum cargo
eleitoral. Sua experiência acumulada devia estar a serviço dos mais jovens, das
novas gerações, da construção de novos valores, da preparação da juventude para
assumir os destinos do país. É preciso injetar sangue novo, o vigor da
juventude na política, para que tenhamos um país sempre em renovação.