" Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores". (Cora Coralina)
A NAMORADA
Edmílson Martins
Setembro 2021
Corria o ano de 1963. Ele já estava no Rio de Janeiro, proveniente do Nordeste. E já trabalhava no Banco do Brasil, depois de quatro anos de estudo e um concurso difícil, com um índice de aprovação de cerca de cinco por cento dos concorrentes.
Morava no Méier e participava de atividades sociais, através de grupos de jovens que se organizavam em torno da paróquia do Imaculado Coração de Maria. Todos motivados pelas propostas do Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado pelo papa João XXIII.
Tinha 25 anos, em pleno vigor da juventude, cheio de ideias e sonhos. Junto com outros jovens idealistas, desejava mudar o mundo, que estava bem afastado, como hoje, dos ideais de vida propostos por Jesus Cristo.
Em meio à efervescência da participação religiosa e social, procurava uma namorada. Um amigo, um dia, lhe falou:
- Cara, eu tenho uma amiga e colega de trabalho que é o teu perfil. Quero te apresentá-la. Creio que vai ser um relacionamento que vai dar certo.
Demorou a apresentação. Até que em um baile no clube em que ele era empossado como diretor, ela lhe foi apresentada. Começaram uma amizade, ao som de sambas e boleros. Muito mais de boleros, com dança e conversas ao pé do ouvido.
No início, era amizade, que foi se aprofundando, até se tornar namoro comprometido. Foram três anos de conversas, convivência e preparo, até chegar a um acordo definitivo, com perspectiva de casamento.
No primeiro ano de namoro, todos os dias, no final da tarde, ia esperá-la no Jardim do Méier, onde ela descia do ônibus, procedente da empresa em que trabalhava, localizada no bairro Maria da Graça.
Passavam pelo Jardim, entre rosas e flores belas, cujo perfume, segundo ele, era inferior ao perfume dela. Diz ele, também, que, entre as flores do Jardim, acompanhava uma Rosa/flor e todas a ele diziam: trate-a com muito amor. Do outro lado da via férrea, pegavam um ônibus para o Encantado, onde ela morava.
Despedia-se dela sempre na entrada da avenida, onde ficava a sua residência. Só entrou em sua casa depois de um ano de familiaridade e já comprometido, com ideias de casamento. A partir daí, os laços de amizade estendiam-se à família. Eram assim os namoros naquele tempo.
Resultado, como previu o amigo, o namoro deu certo. Casaram-se, com o testemunho de muitos amigos, e juramento solene: “Prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da nossa vida, até que a morte nos separe”. Estão namorando há cinquenta e sete anos. E deu frutos essa parceria de amor. Têm filhos e filhas, netos e netas maravilhosos.
Em torno de princípios nobres, fizeram aliança definitiva. Em defesa de valores elevados, juntos, enfrentaram adversidades, tribulações e incompreensões. Juntos, na ditadura (1964/85), sofreram perseguições, opressões e até prisões. Mas, com a força da unidade, resistiram. Continuam namorando, guardando sonhos e esperanças.
Parafraseando Zé Keti, na música “Opinião”, dizem sempre: “Podem nos prender/Podem nos bater/ Podem até deixar-nos sem comer/Que dos sonhos não abrimos mão/ O namoro é eterno e dele não desistimos, não”.
Pois é. Que assim seja.
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