terça-feira, 1 de setembro de 2020

ALEGRIA DOS SAPOS

 

 

 

ALEGRIA DOS SAPOS

                    Edmílson Martins

                     Agosto/2020

 

Para aliviar as tensões provocadas pela pandemia e pelo pandemônio do atual momento político, que tanta tristeza têm trazido ao povo, resolvi viajar à minha infância, para ouvir a alegria do canto dos sapos, no açude próximo a casa onde eu morava, no Sítio Ipueira, sertão do Ceará.

Era assim: quando começava a chover, geralmente à noite, a gente ia dormir cedo. Com o barulho da chuva no telhado, dormia-se logo e o sono era profundo. A gente não sentia que chovia pesado, durante a noite inteira.

 Despertava-se às seis horas da manhã, com o barulho dos sapos, cantando alegremente no açude, que dormia vazio e amanhecia cheio, com as águas jorrando pelo sangradouro.

 Logo, eu e meus irmãos saíamos correndo para ver o açude cheio, as águas correndo pelos pequenos córregos, a saparia cantando alegremente, os patos e marrecos nadando, em bando, com os seus filhotes.

 O canto dos sapos, Jackson do Pandeiro já revelou, com muita categoria, na sua música “Cantiga do Sapo:


“- Tião

- Oi!

- Foste?

- Fui!

- Compraste?

- Comprei!

- Pagaste?

- Paguei!

- Me diz quanto foi?

- Foi quinhentos réis
Quando a chuva cai o sapo fica contente
Que até alegra a gente com o seu desafio”.                

 E era assim. Uma verdadeira sinfonia. Vozes e sons diversos, que convidavam toda a natureza a cantar, celebrando a chegada da chuva. E aí, todo o cenário do sertão se transformava, toda a natureza se alegrava, tudo e todos ficavam contentes.

 As árvores ficavam mais verdes e sorridentes; a passarada musicava a natureza com seus cantos maviosos; os homens cantarolavam, dirigindo-se ao roçado; as mulheres arrumavam a casa e preparavam as refeições, com entusiasmo e alegria. Tudo era festa.

 Como seria bom que hoje toda a sociedade ouvisse a cantiga e a alegria dos sapos, ao invés de ouvir o canto triste e cotidiano das notícias sinistras, transmitidas pela televisão. Sim à lembrança dos sapos, cantando no açude, não ao canto triste da televisão e de outros meios de comunicação, que enche toda a natureza de tristeza e tédio.