CAPITOLINA EDIÇÕES ENTREVISTA ANGELO RODRIGUES
Como você iniciou suas atividades de pintura e desenho?
ANGELO RODRIGUES: Creio que essas coisas entram em nossa vida sem que a gente perceba bem como aconteceram. Um dia uma irmã mais velha te dá um caderno e alguns lápis de cor e então… bum… ocorre uma virada dentro de você sem que ninguém possa perceber, nem mesmo você. Aí as coisas vão crescendo, sua vontade é por mais recursos, novas idéias até que um dia você se dá conta que está completamente tomado pelo desejo de fazer arte. Definitivamente, o desejo de fazer arte, qualquer que seja a arte que você tenha escolhido fazer, não tem um início, porque parece que iniciou com você e fazer a sua arte é apenas uma consequência inevitável e irreprimível.
♦
Qual a importância da EAV – Escola de Artes Visuais do Parque Lage nessa caminhada?
Creio que decisiva. Entrei para a EAV em 1980 para fazer pintura. Em seguida frequentei as oficinas de gravura e nunca mais me desliguei desse meio gráfico. Conheci bons professores e grandes artistas que estão sempre transitando por lá. A Escola sempre teve altos e baixos. Hoje vive um momento muito bom com boas oficinas, bem aparelhadas e com professores competentes. De tempos em tempos retorno para um curso novo ou para rever amigos que, como eu, sempre estão transitando por lá.
♦
Como surgiu o interesse pela gravura, especialmente pela gravura em metal?
Isso ocorreu quando tive a oportunidade de ser aluno de dois professores no Parque Lage: Antônio Grosso, que foi meu professor de Litografia e José Lima, que me ensinou Gravura em Metal. Percebi que a Gravura em Metal correspondia melhor aos meus anseio e nunca mais deixei de produzir. Infelizmente a Litografia exigia uma presença muito grande na oficina, dado que você não pode carregar a matriz pra todo lado que se queira, ao passo que a placa de metal oferecia a possibilidade de você produzir fora da oficina, ganhando tempo e melhorando sua técnica sem a pressão das aulas.
As possibilidades proporcionadas pelos materiais que eu podia utilizar somadas às incertezas dos ácidos e sais que utilizava para corrosão do metal sempre me encantaram pela imprevisibilidade dos resultados. Creio que isso foi o aspecto mais fascinante e que me tomou completamente e possibilitou aumentar fortemente o número de experimentos com um número grande de possibilidades técnicas. Creio que a Gravura em Metal se tornou, hoje, o meio pelo qual expresso melhor o meu desejo de fazer arte.
♦
No seu processo criativo há uma temática recorrente? O que lhe serve de inspiração?
Com essa questão me debato sempre. Embora possa parecer polêmico, nunca acreditei em inspiração. Sempre achei que o produto da arte deve funcionar como um “segundo eu”, que caminha de forma paralela às emoções, sentimentos. A produção artística é consequência disso, materializada por meio do que eu aprendi na técnica do fazer. Tenho restrições ao que se costumou chamar de marca do artista, porque isso sempre me pareceu um pouco falta de mudança pessoal, dado que as pessoas se transformam com o tempo e em consequência sua arte deve mudar também. Acredito em séries, pois representam melhor o estado de espírito do artista em uma determinada época de sua vida. As temáticas, por si só, devem representar o eu mais profundo do artista, algo com o qual ele lida de forma quase primitiva, pois é o seu centro emocional.
♦
E a literatura? Escrever para você é tão importante como pintar e desenhar?
Volto a falar sobre os momentos pelos quais as pessoas passam. Fazer arte é expressar sentimentos, seja por que meio for. Não dá pra você pôr uma história, um conto ou uma poesia numa gravura, ou pelo menos não dá na sua plenitude de detalhes. Aí você escreve, simples assim. As vezes se esquece que fazer arte é lidar com um mundo tomado pela abstração e nesse contexto se pode ser um artista bom ou ruim sendo um matemático, gravador, pintor, músico. Lidar bem com o mundo abstrato creio que sempre tenha sido o segredo no fazer arte. A forma utilizada para tanto – se literatura, desenho, pintura, música – passa a atender ao senso de oportunidade ou adaptabilidade.
♦
Que espaço tem no seu trabalho a atividade de ilustrador? Você costuma ilustrar seus próprios livros?
Sempre que escrevo alguma coisa sinto necessidade de desenhar em paralelo e isso tem vantagens e desvantagens. Uma dessas “desvantagens” é que você acaba contando a história duas vezes ao invés de apenas uma quando ilustra seus próprios textos. A “vantagem” é que você ilumina o texto
com uma aquarela bem bonita. Já pequei tremendamente pelo entusiasmo. Certa vez, no início dos anos 1980, escrevi um texto longo sobre Mitos e Lendas Brasileiros e resolvi ilustrá-lo. Meu entusiasmo foi tão grande com as ilustrações que o produto ficou caro demais para publicação (lembrem-se que naqueles anos as coisas funcionavam com fotolito, que não eram baratos de fazer) e o projeto ficou pelo caminho. Restaram alguns desenhos que guardo até hoje comigo como lembrança desse “erro de cálculo”. Mas ainda sou meio teimoso e tenho alguns textos que merecem ilustração e em breve devem ser publicados com algumas aquarelas.
♦
Na sua opinião, qual a tendência dos e-book’s no mercado brasileiro?
Os e-books chegaram para ficar e serão uma forma maravilhosa de leitura disponível para os leitores. Nada de imaginar o fim do livro impresso, essas coisas. Alguns conceitos ainda precisam ser acertados com os e-books, como leiaute, inserção de ilustrações, paginação e, obviamente, preço. Mas o tempo acabará pondo as coisas nos seus devidos lugares, fazendo, no futuro, a gente rir um pouco de como tínhamos dúvidas acerca dos e-books no passado.
♦
Quais as suas perspectivas de novos trabalhos em pintura, desenho e literatura?
Tenho uma exposição de gravuras que deve ocorrer em breve no Museu Histórico Nacional. Será a Bienal de Gravura Sul-Americana. Tenho feito muitos trabalhos de pintura e escrito, ou melhor, revisado alguns textos que devo publicar em breve. Vamos ver o que vem pela frente…
CAPITOLINA EDIÇÕES ENTREVISTA THEREZINHA MELLO
Como surgiu a ideia de escrever o Seis Tempos?
THEREZINHA MELLO: O Seis Tempos foi a consequência de um período em que frequentei a Oficina Literária do professor Ivan Proença. Tínhamos o compromisso de produzir um novo texto por semana. Alguns tinham tema livre, mas a maior parte vinha de uma proposta do professor, de acordo com o assunto que estivéssemos estudando nas aulas. Era comum que, ao final de algum tempo por lá, os alunos publicassem seus livros, que em geral eram resultantes dessa produção.
♦
E por que Seis Tempos?
Bem, eu quis dar ao conjunto de histórias curtas e poemas que havia produzido, uma certa organização. Então tive a ideia de considerar as cinco emoções básicas do ser humano – afeto, tristeza, alegria, raiva e medo – e agrupar os textos de acordo com elas. Acrescentei o amor como uma sexta possibilidade e ficou assim: Seis Tempos.
♦
Você escolheu, para prólogos dessas histórias, poemas de temática feminina, que falam de amor e separação. Pode nos falar mais sobre isso?
Claro. Lá na Oficina nós podíamos criar textos em qualquer gênero. E houve uma época em que me arrisquei na poesia. Todos nós já vivemos perdas e, eu acho que no fundo, sejam de que ordem forem, ela provocam sensações muito semelhantes. A gente sente raiva, dor, desespero, tristeza, baixa autoestima e vai por aí. Tive mais facilidade em criar poemas baseados em perdas amorosas, do ponto de vista da mulher. Separações, desencontros, traições. Selecionei assim alguns deles para servirem de prólogo às histórias, de acordo com a emoção abordada em cada capítulo.
♦
Como foi receber um prêmio pelo Seis Tempos?
Participei, em 2011, no Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores – UBE e o livro recebeu o 1º. Lugar na categoria Contos. Representou um estímulo muito grande, até porque foi o primeiro prêmio que recebi como escritora.
♦
Quais suas outras publicações?
Comecei com Jorge da Capadócia, o menino guerreiro, um Infantil que fala do medo que a criança tem de crescer, de tornar-se adulta. E de como isso pode ser enfrentado com coragem e coração alegre. O protagonista não é abordado com nenhuma conotação religiosa, mas serve de referência para o enfocar o arquétipo da coragem e do enfrentamento.
Tenho também uma publicação de poesias, Cantilena de Mulher – Poemas da alma feminina, ainda em e-book, mas com breve lançamento em papel.
Em fase de criação, Machadinho, o menino das letras, um almanaque em quadrinhos sobre a vida do nosso Machado de Assis, dirigido ao público infantil.
♦
Você tem algo mais a dizer aos seus leitores?
Aos leitores a gente tem sempre que agradecer a gentileza de dedicarem seu tempo, seus momentos de recolhimento, a lerem nossos textos. Hoje são muitas as opções e ser alvo dessa escolha é um privilégio. Tenho por todos enorme carinho e espero que continuem visitando o site da Capitolina Edições, acompanhando nosso catálogo e as novidades do Blog da Capitolina e da Sala do Escritor. Obrigada a todos.
CAPITOLINA EDIÇÕES ENTREVISTA MARTA ALARCON CHAMARELLI
Marta Alarcon Chamarelli é professora, com formação em Português e Literatura e em Pedagogia pela UERJ, além de mestra em Memória Social, pela UNIRIO. Atuando no Ensino Fundamental do Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, dedica-se atualmente à produção de curtas-metragens, em parceria com Marco Gutierrez.
Como sua experiência estudantil e no ensino público podem ser relacionadas ao seu interesse por cinema?
MARTA A CHAMARELLI: Na verdade, no meu caso, o interesse por cinema remonta à infância. Meu avô passava filmes do Chaplin para os netos e para os colegas do bairro no que chamávamos de clubinho. Depois veio a experiência em teatro infantil, sempre amador e mais tarde o trabalho com crianças do ensino fundamental em toda a minha trajetória de professor. A partir daí me interessei pela contação de histórias e aí, aos poucos, fui retornando ao trabalho com as artes. Há dois anos frequentei um curso de cinema na educação na UFRJ e a paixão pelo cinema se reacendeu na brincadeira de filmar. Resolvi, junto com Marco, experimentar um pouco disso.
♦
O que é e como surgiu a Chamarelli & Gutierrez e quais os curtas-metragens que vocês já produziram?
Nós produzimos 5 filmes: Obsessão, Aquela estrada, Alla finestra, Inquilino e Esta noite, seu cadáver…
Como é a estrutura da equipe – diretor, ator, roteirista – e como se dá o processo criativo?
É até difícil de explicar… Em geral, o roteiro é do Marco, a ideia é sempre meio coletiva, a gente conversa, faz um brainstorm e aí vem alguma coisa. Com o Obsessão foi meio assim e com Aquela estrada também. No caso do Inquilino, partiu de uma ideia para um conto de nosso filho mais velho – Maurício. Marco pensou em cima, adaptou à nossa realidade de produção sem dinheiro e criamos o filme.
♦
Como foi filmar “Obsessão”?
Primeiro, foi muuuuuito divertido! Foram tantas as dificuldades e desafios mas eles só faziam a gente ter mais vontade de executar a filmagem. O primeiro problema foi arrumar a locação, mas um anjo nos cedeu o lugar (maravilhoso, por sinal!) mas tinha um curto prazo porque o lugar estava sendo desativado para ser entregue ao dono. Então tínhamos apenas um dia para filmar. Começamos às 8 e saímos de lá às 17h 30 min. Acho que foi um recorde, afinal com toda nossa inexperiência… Por isso também ficou com muitos problemas. Não tínhamos como refazer, pelo menos não naquele espaço. E não queríamos abrir mão porque começar tudo de novo envolveria ocupar mais um dia do ator e tudo o mais. Então fizemos como foi possível entendendo que tudo isso faz parte de um aprendizado para a gente.
♦
“Aquela estrada seguindo em frente” possui um roteiro mais complexo. Quais as dificuldades que vocês tiveram nessa produção?
Nossa, dificuldades? Todas e mais algumas. Queríamos fazer um road movie para inscrever num concurso que exigia esse tipo de gênero. O ator não dirige, então precisamos filmar em ônibus. Foi uma loucura mas vivemos nosso primeiro reconhecimento num ônibus que pegamos para Petrópolis. Foi uma experiência muito rica e interessante, mas também é um filme com muitos problemas de imagem e som. Mas foi um dos filmes que mais gostei de fazer até agora. Não sei se pela coisa da estrada, pelas sucessivas estradas que tivemos de pegar, tudo perto, mas foi gostoso. Também arrumamos uma locação numa estrada, fizemos contato com as pessoas que foram super legais com a gente. E nós lá tentando filmar sem atrapalhar a rotina da lanchonete, mas foi difícil. Quando estava tudo pronto para gravar, estacionava um carro e saía uma família inteira com criança, velho e tudo o mais para lanchar e aí eu tirava o tripé para não ficar no meio do caminho, esperava eles irem embora e começava tudo de novo. Teve até um momento engraçado em que combinamos a cena, montei o tripé, preparei a máquina e demos o sinal para o ator. De repente, pelo visor vejo uma pessoa que não era o nosso ator entrar bem no lugar da cena. Cortei e caímos na gargalhada. Toda hora tinha que começar tudo de novo…
♦
“Alla finestra” é o mais curto de todos. Pareceu uma proposta nova. Foi mais fácil fazer?
Alla finestra foi feito para um concurso do Festival do Minuto que é um site que só promove concursos de minuto. Foi feito sob encomenda. Escolhemos o local para a gravação e quando estávamos definindo os últimos detalhes, eles anteciparam o final das inscrições. Então foi a maior improvisação. Tivemos que gravar na nossa casa mesmo, com os recursos que tínhamos ali mesmo não sendo exatamente o que pretendíamos.
♦
O que vocês pretendem para os próximos trabalhos?
Aprimorar algumas questões técnicas e ter boas ideias para continuar gravando. Agregar outras pessoas ao processo porque estamos trabalhando ainda com uma equipe muito pequena e além de sobrecarregar, algumas coisas ficam muito falhas já que não somos profissionais. Pretendemos agregar alguns profissionais de áreas afins para compor uma equipe mais bem preparada em relação à maquiagem, continuidade, cenografia, figurino etc.
♦
Vocês participam habitualmente de concursos de Curtas?
Participamos do concurso do Road Movie do Tela Brasil e do Cantando no Banheiro somente. Temos nos inscrito em alguns festivais de curta com mostras não competitivas. Temos também procurado participar dos concursos do Festival do Minuto e nosso último filme foi feito para isso e é de terror porque era o tema do concurso. Mas não fomos selecionados.
♦
O profissional de cinema no Brasil é “antes de tudo um forte”? Por quê?
Fazer cinema é muito dispendioso e trabalhoso. Eu fiz teatro amador por muitos anos, mas no teatro ou a coisa rola ou não ali, na cena, no tête à tête com o público. O cinema envolve uma técnica, um apuro com a imagem que não permite tanta improvisação. Em contrapartida, do ponto de vista da interpretação, você só precisa acertar uma vez. Se conseguir isso, pode colocar no filme. No teatro você tem que fazer funcionar de novo, todo dia etc.
♦
Como o público pode acessar as produções de Chamarelli & Gutierrez?
Nosso último filme, Inquilino, ainda está aguardando sua primeira execução pública. Os demais estão disponíveis no Vimeo:
Esta noite… o seu cadáver: http://vimeo.com/magut/estanoite
Alla finestra: http://vimeo.com/magut/allafinestra
Aquela estrada seguindo em frente: http://vimeo.com/magut/aquelaestrada
ENTREVISTA COM FERNANDO MILFONT
Como o senhor descobriu seu talento para escrever? A profissão de jornalista aconteceu de que forma?FERNANDO MILFONT: A pergunta é um tanto embaraçosa, sei lá se é talento!. Mas vou contar uma pequena história – de amor, dedicação e algum esforço. Amor, esclareço, à minha profissão. Escolhi ser jornalista por via de consequência, ou seja, por ter começado a trabalhar numa estação de rádio, em Fortaleza. Inicialmente, como operador de som. Logo passei para o setor de produção artística. Fui tomando gosto, aprendendo e comecei a escrever programas de vários gêneros – românticos, históricos, humorísticos, crônicas e os noticiários. Foram dez anos, pensei que estava no ponto, decidi viajar para o Rio. Levado por meu primo e cunhado Gilberto Milfont, que era artista da Rádio Nacional, fiz teste, fui aprovado, trabalhei com os melhores redatores, com quem aprendi o mais possível. Com o tempo, passei a secretário de redação e, mais adiante, o diretor convidou-me para ser redator do Repórter Esso. Era feito pela United Press International). Foi o mais famoso (em todos os tempos). noticioso do Brasil, não só pela dinâmica, pelas noticias e, sobretudo pelos redatores – os melhores, assim como pelo locutor (Heron Domingues) que era também o diretor do Departamento de radiojornalismo da Nacional. Daí, fui ficando conhecido e muitas vezes convidado para outras rádios, como a Globo. Desta passando para o jornal, onde fiquei uns nove anos. Saí por ter sido designado para servir no Consulado do Brasil em Chicago, onde cheguei a substituir o cônsul, em seus períodos de férias. Era funcionário do Itamaraty, para onde havia sido transferido do Ministério do Trabalho, com o golpe de 1964. (O setor sindical, onde eu trabalhava havia sido extinto). Nesse tempo, trabalhei em jornais (A Notícia, como copy e Última Hora, como chefe de reportagem). Ao retornar de Chicago, pedi demissão do Itamaraty, pois não quis ir para Brasília. No final dos anos de 1970 estava voltando para O Globo, como copydesk, porém fiz vestibular para Sociologia, fui aprovado (UERJ). Já havia feito um curso de RP na PUC. Disso tudo resultou um bom aprendizado, como continuo sempre, em toda minha vida, ao longo de mais de 60 anos como jornalista, profissão a que me dediquei com orgulho e muito respeito.
♦
O senhor acha que hoje é mais fácil publicar no Brasil? Por quê?
Não sei responder a esta outra – se é mais fácil publicar hoje, no Brasil. Mas vou contar uma outra pequena e esclarecedora (assim penso) história. Um jornalista norte-americano decidiu fazer uma pesquisa sobre o que faz uma pessoa ter êxito na vida. Escreveu três livros, vendeu mais de 25 milhões de cópias. Um dos exemplos foi o magnata Bill Gates: um pouco de ajuda da família (principalmente com incentivos morais), muito esforço, muita dedicação no trabalho, um pouco de talento e sorte. Muita sorte. Tornou-se um dos maiores bilionários do mundo. Entrou para a universidade quando a Informática estava no começo. Dois anos depois, já estava fazendo programas para computador. O resultado foi a criação da Microsoft. Outro exemplo fundamental: um jovem filho de mãe de cinco filhos de pais diferentes. Desse, pouco cuidava. Era tido como muito inteligente, ganhou DUAS bolsas de estudo para universidades. Talvez por desinteresse, perdeu ambas. Trabalhava como porteiro de um clube noturno. Diz o repórter que lhe faltaram disposição, interesse e sorte. Houvesse continuado, teria sido um dos maiores físicos dos Estados Unidos. Assim são muitos os que têm talento, vontade mas lhes faltam os demais ingredientes. É a vida.
♦
Quais são suas outras atividades literárias?
Quanto às minhas atividades literárias, limito-me a ler e, quanto “pinta” uma ideia, aproveito-a, ponho-a no papel. Elas aparecem assim, de repente, enquanto faço minhas caminhadas na praia, um bom exercício para alimentar a saúde, controlar a pressão alta e diminuir o colesterol.
♦
Como o senhor vê a chegada dos e-book’s?
Ainda não tenho opinião formada quanto ao e-book. Acabo de ler notícia de que o NYT está preocupado com esse novo e diabólico mundo das comunicações via Internet.
♦
Depois da estréia do “Saco de Dólares” em edição digital quais são seus novos projetos?
Não tenho projeto. Tenho prontos um romance, mais um livro de contos e quatro livros de crônicas Muitas dessas estão sendo publicadas há alguns anos no programa Rádio Memória, transmitido aos domingos pela Roquette Pinto. Foi uma exigência de um grande amigo, que me pediu uma crônica para inaugurar o programa. Gostou e “determinou” que deveriam continuar. Ganho apenas experiência e alguns elogios, o que já é confortador. Também são publicadas na revista mensal Bairro Peixoto, atendendo a pedido do editor. Isso o levou a publicar meu primeiro livro, “O saco de dólares”. No mais, deixo a vida me levar. Gosto e viver!
♦
Obrigado pela entrevista, Sr. Fernando! Para finalizar: que sugestão o senhor daria aos jovens escritores brasileiros?
Quem sou eu para dar conselhos!!! Arrisco, porém, algumas palavras, digo-lhes ser indispensável ler muito. Escrever o que lhes vier à mente. Qualquer assunto. Tudo vai depender da abordagem. Usar palavras simples, frases compreensíveis, ter em mãos, sempre, dicionários e gramáticas (é o que faço). Muito cuidado com o uso dos pronomes, dos verbos e das vírgulas. Ser bastante conciso. Se puder dizer em cinco linhas, não usar dez.. Os leitores são exigentes. Por vários motivos, ninguém, hoje em dia, perde tempo, principalmente com o luxo da leitura. Por fim, o conselho do jornalista americano: talento e sorte, muito trabalho e uma ajudazinha de amigos ou parentes.