sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

ANOS DE CHUMBO - HOMENAGEM AOS QUE RESISTIRAM

No ato que lembrava o massacre dos meninos da Candelária, Chico Alencar já disse que “esquecer é admitir, lembrar é combater”. Por isso, lembrando o golpe militar de 1964, que tantos males causou ao nosso povo – e lembrar é preciso como sinal de alerta e vigilância para que aquele momento infeliz nunca mais ocorra em nossa História – quero homenagear aqueles que combateram com bravura contra os anos de chumbo e lutaram com tenacidade pelo restabelecimento da democracia.
Como não posso citar pelo nome todos os combatentes, porque são muitos, cito pelo menos aqueles com quem convivi na luta de resistência, começando pelos que foram mais duramente atingidos pelos horrores praticados pelas forças da repressão. Sendo assim, presto minhas homenagens, que creio serem também de todos os trabalhadores e de todo o povo brasileiro amigos da liberdade, aos seguintes companheiros e companheiras:
• Aluízio Palhano e José de Oliveira Toledo, heróis da categoria bancária, covardemente assassinados pela ditadura no início da década de 1970;
• Roberto Percinoto e Aury Gomes da Silva, bancários e dirigentes sindicais, perseguidos, presos e torturados nos cárceres do DOPS e da Marinha na Ilha das Flores, continuando, apesar disso, na luta pelas liberdades até hoje;
• Joaquim Arnaldo de Alencar (de saudosa memória) e Tibor Sulik, metalúrgicos, sindicalistas e militantes da Ação Católica Operária, que, embora perseguidos e encarcerados pelo regime opressor, permaneceram sempre na luta operária e no movimento de resistência à ditadura;
• Mário Silveira e Maria Inez Serapião, encarcerados pelo DOI COIDI no quartel da PE, na Rua Barão de Mesquita, centro de torturas da ditadura, saindo de lá vivos por obra e graça da Providência;
• Cláudio Campos, preso também pelo DOI, barbaramente torturado, chegou ao “estado de coma”, salvo da morte graças à Providência e interferência de D. Eugênio Sales;
• Roberto Martins (de saudosa memória) e Antônio Imbiriba da Rocha, sindicalistas e dirigentes bancários, fiéis companheiros, que comigo estiveram presos, em 1972, por ocasião da intervenção no Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro;
• José Rodrigues, bancário e sindicalista autêntico, combativo, que faleceu em 1975, vítima da covardia do sistema repressor;
• Jorge Couto, bancário e dirigente sindical, combatente de vida inteira, que, mesmo vítima do esquema de repressão e perseguição, resistiu com bravura à ditadura e ainda hoje participa ativamente, e com muita disposição, da luta sindical;
• José Fagundes Gonçalves Vieira, Ronald Barata, Degerando Medeiros, João José dos Santos, Joaquim José Duarte, Ivan Pinheiro, Elso Rodrigues, Zola Xavier e Cyro Garcia, bancários e dirigentes sindicais, que participaram intensa e incansavelmente da luta de resistência ao regime militar, pelas liberdades sindicais e democráticas, mesmo sofrendo todo tipo de repressão;
• Maria Emília Barbosa (de saudosa memória), bancária e dirigente sindical combativa, que com sua autenticidade e persistência na luta estimulou a participação da mulher bancária no movimento sindical;
• As mulheres de sindicalistas, que, numa atitude de compreensão, consciência de luta e companheirismo, acompanhavam e apoiavam seus maridos na luta de resistência;
• D. Eugênio Sales –ex-cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro -, D. Celso José Pinto –atual arcebispo de Teresina-PI, os advogados Técio Lins e Silva e Nilo Batista, que, corajosamente, defenderam perseguidos políticos;
• Dona Elza Martins de Oliveira, minha sogra, mulher de fé profunda e solidária, que, como sinal de desagravo pela minha prisão, após a minha libertação, organizou um almoço e convidou toda a família e amigos;
• Por fim, de um modo muito especial, quero homenagear Maria José Martins de Oliveira, minha esposa e companheira de todas as horas, que participou ativamente da luta dos bancários contra a ditadura, com sua compreensão, apoio e acolhimento. É digno de nota a sua coragem e disposição quando, ao lado de sua cunhada e amiga Virgínia da Silva Oliveira - a quem rendo minhas respeitosas homenagens pelo seu espírito solidário - e de outras mulheres, enfrentou a truculência policial e buscou contatos e defesas para a minha libertação e dos outros companheiros que comigo estavam presos.
Que saibam todos os bancários, todos os trabalhadores e todo o povo brasileiro que esses companheiros e companheiras lutaram incansavelmente pelos direitos de todos e contribuíram decisivamente para a reconquista da democracia em nosso país. Por isso, merecem serem reconhecidos e homenageados, principalmente pelas novas gerações, que devem ficar vigilantes para que aquela página infeliz nunca mais seja escrita.
Edmílson Martins de Oliveira - março de 2007